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Postectomia (circuncisão) em adultos: quando é indicada, como é feita e o que esperar da cirurgia

  • Foto do escritor: Dr. Charles Riedner
    Dr. Charles Riedner
  • há 2 horas
  • 9 min de leitura

A postectomia – também conhecida como circuncisão – é a cirurgia que remove o prepúcio, a pele que recobre a glande do pênis. Em adultos, é um procedimento com forte respaldo científico, indicado principalmente para tratar fimose, parafimose, inflamações recorrentes e algumas doenças dermatológicas ou pré-malignas do pênis. 


Este artigo reúne a visão histórica, as principais indicações, uma descrição didática da técnica cirúrgica, riscos, benefícios e diretrizes atuais.

Resumo rápido (para quem quer ir direto ao ponto):


  • O que é postectomia?

    Cirurgia que retira o prepúcio para expor completamente a glande.


  • Principais motivos para fazer uma postectomia:

    • Fimose em adulto (prepúcio apertado)

    • Dor e fissuras na relação sexual

    • Parafimose (prepúcio preso atrás da glande)

    • Inflamações repetidas (balanite/balanopostite)

    • Algumas doenças dermatológicas ou pré-malignas do pênis


  • Como é a cirurgia de postectomia?

    Procedimento rápido, geralmente ambulatorial, na maioria das vezes realizada com anestesia local + sedação anestésica (o paciente "dorme" durante a cirurgia).


  • Dispositivos (staplers como Anastomat) diminuem cerca de 17 minutos o tempo cirúrgico, causam menos dor nas primeiras 24 horas e ligeiro aumento da satisfação dos pacientes. Isso tudo às custas de um custo maior do procedimento e leve aumento dos efeitos adversos moderados, sem diferença nos efeitos adversos graves.


  • Pós-operatório:

    • Dor suportável, controlada com analgésicos

    • Inchaço por algumas semanas

    • Relação sexual liberada normalmente após cicatrização (em média 45 dias)


  • Riscos:

    Sangramento, infecção, cicatriz inestética ou alterações de sensibilidade (geralmente raros e manejáveis).



1. O que é postectomia e qual a diferença de fimose?


Postectomia é o nome da cirurgia.

Fimose é o nome do problema: quando o prepúcio não abre o suficiente para expor a glande. Às vezes esse problema acontece apenas quando o pênis está ereto, a pessoa não consegue retrair a pele prepucial e expor a glande com o pênis ereto, mas em casos severos não se consegue nem expor a glande com o pênis flácido.


Isso causa:

  • Dificuldade ou impossibilidade de “baixar a pele”

  • Dor ou fissuras na ereção ou na relação

  • Dificuldade de higiene, com acúmulo de secreção e mau odor


Quando esse quadro ocorre em adultos, falamos em fimose patológica, e a postectomia costuma ser o tratamento definitivo.



2. Um pouco de história: por que essa cirurgia existe há tanto tempo?


A remoção cirúrgica do prepúcio é muito mais antiga do que a própria medicina moderna. A circuncisão atravessa milênios como prática ritual, identitária, religiosa e, mais recentemente, médica.

  • Registros arqueológicos apontam representações de circuncisão no Egito antigo há mais de 4.000 anos, em relevos e papiros que descrevem práticas rituais e sanitárias. 

  • Em muitas culturas, a circuncisão se consolidou como rito religioso ou de passagem (judaísmo, islamismo, alguns povos africanos), frequentemente realizada na infância ou adolescência.

  • A partir do século XIX e início do século XX, em países ocidentais, a circuncisão passou a ser vista também como procedimento médico, inicialmente para tratar ou prevenir fimose, balanites e, mais tarde, para reduzir o risco de câncer de pênis e algumas infecções sexualmente transmissíveis. 


Hoje, a indicação em adultos é essencialmente clínica, baseada em sintomas, doenças associadas e qualidade de vida, respeitando evidências científicas e o desejo informado do paciente.



3. Quando a postectomia é indicada em adultos?


3.1. Fimose (prepúcio apertado)

  • Não consegue expor (ou expõe com muita dificuldade) a glande.

  • Pode causar dor, fissuras e sangramentos na relação sexual.

  • Em alguns casos está associada a doenças de pele do pênis, como líquen escleroso e atrófico (chamado balanite xerótica obliterante).


3.2. Parafimose

  • Acontece quando o prepúcio é puxado para trás e fica preso atrás da glande.

  • A região incha, dói e pode até estrangular a circulação local.

  • Depois de tratar a urgência, costuma-se indicar a postectomia para evitar novo episódio.


3.3. Inflamações e infecções repetidas

  • Balanites e balanopostites de repetição (inflamação da glande e do prepúcio).

  • Mais comuns em diabéticos, em quem tem higiene difícil ou excesso de prepúcio.

  • A cirurgia ajuda a quebrar esse ciclo de inflamação.


3.4. Dor e dificuldades na vida sexual

  • Dor na ereção, fissuras e sangramentos durante o sexo.

  • Medo, vergonha ou insegurança por conta desses sintomas.

  • Em muitos casos, após a cirurgia, o paciente relata relações mais confortáveis e tranquilas.


3.5. Doenças dermatológicas e lesões suspeitas

  • Algumas doenças de pele causam cicatrizes e estreitamento do prepúcio.

  • Em lesões pré-malignas ou suspeitas de câncer de pênis, a postectomia pode fazer parte da abordagem.



4. Como é a cirurgia de postectomia na prática?


4.1. Anestesia e preparo

  • O paciente fica deitado de costas (decúbito dorsal).

  • É realizada, em alguns casos, a tricotomia (retirada dos pelos em excesso)

  • É feita a sedação anestésica (o paciente "dorme") e então é aplicada a anestesia local (bloqueio dos nervos do pênis).

  • A pele é higienizada com solução antisséptica.


4.2. Liberação de aderências e hemostasia

  • Descolam-se cuidadosamente aderências entre a glande e o prepúcio, se existirem.


4.3. Marcação da pele

Existem variações de técnicas, mas a ideia é sempre retirar o excesso de prepúcio e deixar a glande bem exposta:

  • Marcam-se linhas circulares na pele e na mucosa do prepúcio, definindo quanto será retirado (nem demais, nem de menos, o procedimento depende da análise de cada caso).


4.4. Retirada do prepúcio

  • O cirurgião remove o segmento de prepúcio previamente planejado.

  • Vasos sanguíneos são coagulados para evitar sangramentos.


Figura 1- Esquema gráfico da postectomia (circuncisão)

Ilustração de como é feita a postectomia


4.5. Pontos e curativo


  • A borda da pele é unida à borda da mucosa com pontos absorvíveis (não é preciso retirá-los depois).

  • No final, a glande fica totalmente exposta, e é feito um curativo leve em volta.


Figura 2 – Resultado imediato (foto antes e depois de uma postectomia)

Na figura acima evidenciamos que a área de estreitamento prepucial (fimose foi totalmente ressecada, restando a glande totalmente exposta, com uma linha de pontos finos em 360° na junção pele–mucosa do pênis.



5. Postectomia em adultos: técnica convencional x dispositivos descartáveis (como o Anastomat)


Nos últimos anos, além da postectomia “clássica” feita com bisturi e pontos, surgiram dispositivos descartáveis específicos para circuncisão em adultos, como os anéis compressivos e os staplers circulares (ex.: dispositivos do tipo Disposable Circumcision Anastomat / ZSR).


5.1 O que são os dispositivos descartáveis (como o Anastomat)?


O termo “Disposable Circumcision Anastomat” ou circular stapler de circuncisão descreve um dispositivo que:

  • Possui uma lâmina circular que cortao prepúcio;

  • Ao mesmo tempo, aplica uma fileira circular de grampos (staples) unindo a pele, substituindo a sutura manual;

  • É de uso único (descartável).


O Anastomat/ZSR é um exemplo desse tipo de tecnologia, desenhado especificamente para circuncisão masculina, muito difundido em estudos asiáticos e em alguns centros que adotaram o método como rotina. Este dispositivo é aprovado pela ANVISA e está disponível em Porto Alegre.


Foto do dispositivo Anastomat (stappler para postectomia)


5.2. Como funciona na prática?


Em linhas gerais:

  1. O dispositivo é dimensionado de acordo com o diâmetro do pênis.

  2. O prepúcio é posicionado no anel do Anastomat.

  3. Aciona-se o mecanismo: a lâmina circular corta o excesso de prepúcio e os staples fazem a anastomose circular na base da glande.

  4. O paciente vai para casa com os grampos em posição; a retirada dos grampos residuais é feita depois de alguns dias, em consultório.



5.3. O que mostram os estudos sobre staplers (como o Anastomat) x cirurgia convencional?


5.3.1. Ensaio clínico randomizado em adultos


Um estudo prospectivo randomizado com 879 homens adultos [Jin XD et al, Braz J Med Biol Res 2015; 48(6):577-582], comparando circuncisão com stapler circular versus técnica convencional, encontrou:

  • Tempo operatório menor no grupo do stapler;

  • Menor perda de sangue e dor pós-operatória imediata um pouco menor;

  • Taxa global de complicações semelhante entre os grupos;

  • A maioria dos pacientes submetidos ao stapler precisou de remoção posterior de grampos residuais, o que é uma etapa específica desse método.

Conclusão dos autores: o stapler para circuncisão é uma técnica segura e eficiente em termos de tempo, mas ainda necessita de refinamentos e de cirurgiões familiarizados com a tecnologia.


5.3.2. Estudo de base populacional com Disposable Circumcision Anastomat


Um estudo retrospectivo taiwanês [Chou C et al, J Clin Med 2022; 11(20):6206] com base populacional, avaliou a eficácia e segurança de um Disposable Circumcision Anastomat em comparação com a circuncisão convencional:

  • Confirma o que diferentes revisões sistemáticas já apontavam, de que os dispositivos de sutura descartáveis são não inferiores à técnica convencional;

  • Em muitos casos, houve redução de tempo cirúrgico, menos sangramento e alta satisfação estética;

  • As taxas de complicações significativas permaneceram baixas e comparáveis à técnica clássica.


5.3.3. Revisões sistemáticas e meta-análises


Várias revisões sistemáticas e meta-análises avaliaram os disposable circumcision suture devices (DCSD) e staplers (grupo em que se incluem os dispositivos como o Anastomat):

  • Uma meta-análise [Huo et al et al 2017; 19(3): 362-367] comparou dispositivos descartáveis de sutura com circuncisão convencional para fimose/redundância de prepúcio:

    • Encontrou tempo operatório menor, menos sangramento e boa aparência estética no grupo dos dispositivos;

    • As complicações foram em geral semelhantes ou discretamente menores, embora com qualidade de evidência baixa a moderada.


  • Uma Cochrane meta-analysis [Cochrane Database Syst Rev 2021; 31;2021(3)] analisou ensaios clínicos que compararam dispositivos de circuncisão com as técnicas cirúrgicas padrão em adolescentes e adultos.


    Os autores concluíram que:

    • Não há aumento de eventos adversos graves com o uso de dispositivos em comparação à cirurgia convencional.

    • Pode haver leve aumento de eventos adversos moderados, como necessidade de pequenos ajustes ou intervenções adicionais (há estudos mostrando que até 88% dos pacientes precisam retirar grampos residuais após a cicatrização inicial, com esses aparelhos).

    • Em contrapartida, os dispositivos reduzem de forma clinicamente relevante o tempo de procedimento (em média, cerca de 17 minutos a menos por cirurgia) e tendem a proporcionar

      • menor dor nas primeiras 24 horas e

      • satisfação um pouco maior por parte dos pacientes quanto ao procedimento em si.

    • A qualidade global das evidências foi classificada como baixa a moderada, e a revisão enfatiza que a escolha do método deve considerar o contexto local, a experiência da equipe e a disponibilidade de dispositivos, além de recomendar novos ensaios clínicos de boa qualidade para refinar essas estimativas.


Em resumo: os dispositivos tipo Anastomat se inserem nesse grupo de staplers avaliados pelas grandes revisões – com perfil de segurança semelhante ao método convencional e algumas vantagens logísticas.


Por isso, a escolha entre técnica convencional e dispositivo (como o Anastomat) deve ser feita em decisão compartilhada, levando em conta:

  • O quadro clínico (fimose simples x casos mais complexos);

  • A disponibilidade de cada método no serviço;

  • Custos envolvidos;

  • Preferências do paciente e experiência do urologista.



6. Como é o pós-operatório da postectomia?


6.1. Dor e inchaço

  • É comum sentir dor leve a moderada nos primeiros dias.

  • O uso de analgésicos e, quando indicado, anti-inflamatórios costuma controlar bem.

  • A região fica inchada e mais “avermelhada”, principalmente a glande – isso melhora ao longo de 2–3 semanas.


6.2. Higiene e curativo

  • Manter a região limpa e seca, lavando com água e sabonete neutro conforme orientação.

  • Secar com cuidado, sem esfregar (apenas encostar a toalha).

  • Trocar o curativo conforme o urologista orientou; algumas vezes usa-se pomada cicatrizante ou antibiótica.


6.3. Atividade física e trabalho

  • Atividades de escritório geralmente podem ser retomadas em poucos dias, dependendo do conforto do paciente.

  • Exercícios intensos, bicicleta e esportes de impacto devem ser evitados por 45 dias.


6.4. Vida sexual

  • Relações sexuais e masturbação geralmente só são liberadas após cicatrização completa, em torno de 45 dias.

  • A liberação exata é definida na consulta de retorno, caso a caso.



7. Benefícios potenciais da postectomia


A decisão pela cirurgia deve ser individualizada, mas os benefícios mais frequentemente observados são: 


  • Facilidade de higiene da glande e redução de odor.

  • Redução da ocorrência de fimose, parafimose e balanopostites recorrentes.

  • Diminuição do risco de câncer de pênis em pacientes com fimose crônica e más condições de higiene (principalmente quando a circuncisão é feita mais precocemente).

  • Em alguns contextos, há evidência de redução do risco de algumas ISTs (em especial HIV em programas de circuncisão em massa em países africanos), embora isso não substitua o uso de preservativo.

  • Possível melhora na qualidade de vida sexual quando havia dor, fissuras ou insegurança relacionadas à fimose.



8. Riscos e possíveis complicações


A postectomia é, em geral, uma cirurgia segura. Ainda assim, como qualquer procedimento, tem riscos:


8.1. Complicações mais comuns (e geralmente leves)

  • Pequenos sangramentos pela linha de pontos

  • Inchaço mais prolongado

  • Desconforto ao urinar nos primeiros dias


8.2. Complicações menos frequentes

  • Infecção na ferida cirúrgica

  • Hematoma (acúmulo de sangue sob a pele)

  • Cicatriz que não fica com a estética ideal (assimetria, excesso de pele remanescente)

  • Alterações na sensibilidade da glande (para mais ou para menos)


Complicações graves são raras, especialmente quando o procedimento é feito por urologista experiente e com os cuidados adequados.



9. Mitos e verdades sobre postectomia


“Vou perder totalmente o prazer sexual.”

Em geral mito.

A sensibilidade pode mudar um pouco com a glande mais exposta, mas muitos homens relatam melhora global do conforto e da segurança na relação, principalmente quando havia dor ou fissuras antes.


“A recuperação é insuportavelmente dolorosa.”

Mito

Há desconforto, sim, principalmente nos primeiros dias, mas na maioria das vezes é bem controlado com remédio analgésicos simples.


“Depois da cirurgia, não vou mais ter problemas de higiene.”

Em parte, verdade.

A higienização da glande fica bem mais fácil, mas higiene ainda é fundamental: é preciso manter o hábito de lavar bem e região.


“Postectomia previne totalmente o câncer de pênis.”

Mito.

Ela reduz fatores de risco, como fimose crônica e higiene difícil, mas não zera o risco. A avaliação urológica e o cuidado com a saúde íntima continuam importantes.



10. Quem deve procurar o urologista para avaliar a necessidade de postectomia?


É recomendável agendar consulta se você:

  • Tem dificuldade ou não consegue expor a glande.

  • Sente dor, fissuras ou sangramento na relação sexual.

  • Apresenta inflamações ou secreções repetidas sob o prepúcio.

  • Já teve parafimose (prepúcio preso atrás da glande).

  • Percebe manchas, feridas ou áreas esbranquiçadas que não cicatrizam na glande ou no prepúcio.


O urologista vai:

  1. Avaliar o quadro clínico.

  2. Explicar as opções de tratamento (inclusive alternativas não cirúrgicas, quando possíveis).

  3. Discutir riscos, benefícios e a melhor estratégia para o seu caso.



11. Diretrizes e recomendações atuais:


Os principais consensos e diretrizes reforçam alguns pontos importantes: 

  • Tratamento conservador primeiro (especialmente em crianças):

  • Uso de pomadas com corticóide e orientação de higiene são o primeiro passo na maioria dos casos de fimose infantil.

  • Indicação cirúrgica quando há fimose patológica, sintomas importantes ou complicações:

  • Em adultos, a postectomia é o tratamento cirúrgico padrão da fimose patológica. 

  • Indicações oncológicas:

    • Em presença de lesões suspeitas de neoplasia, a circuncisão pode ser parte da estratégia diagnóstica e terapêutica.


De maneira geral, órgãos como a Sociedade Brasileira de Urologia e entidades internacionais recomendam que a decisão seja compartilhada, baseada em evidências, na avaliação individual e nos valores do paciente.  



12. Aviso importante

Este texto tem caráter informativo e não substitui consulta médica.

Cada caso é único, e a indicação de postectomia deve ser feita após avaliação individualizada pelo seu urologista.



Avaliação de fimose e postectomia em Porto Alegre

Se você se identificou com algum desses sintomas ou tem dúvidas sobre a necessidade de postectomia, o ideal é conversar com um urologista de confiança.



Dr. Charles Riedner – Urologia

Av. Praia de Belas, 1212 – Sala 1302 – Porto Alegre/RS

Telefone/WhatsApp: (51) 99620-0766

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